sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Nem sempre o banheiro mais moderno é o melhor

Por mais que as diferencas culturais muitas vezes sejam enormes, há momentos em que me deparo com coisas que existem em qualquer lugar. Seja num país desenvolvido europeu ou em país em desenvolvimento da América Latina.
Uma dessas coisas sao os banheiros das estacoes de trem e rodoviárias. Em um aspecto especial, os banheiros sao bem parecidos: fétidos. E fétido na minha concepcao significa provavelmente sujo. Eu tive a agradável experiência com um desses hoje de manha.

No Brasil, eu viajava todos anos do Paraná para passar as férias em Sao Paulo, na casa do meu pai. E como a viagem era longa (doze horas), o motorista era obrigado a fazer 3 paradas de 15/20 minutos para que os passageiros pudessem se abastecer com comida e guloseimas. Ou para "desabastecer". Usei essa palavra para nao dizer "tirar a água do joelho" - acho essa uma expressao pouco adequada para nós, mulheres. A gente nao tira água. E muito menos do joelho. Anatomicamente falando, impossível.  
Como os ônibus de viagem longa sao providos de banheiro (se é que se pode chamar aquilo de banheiro) algumas pessoas usam a pausa apenas para abastecer mesmo. Mas eu sempre fiquei meio cismada com banheiro de onibus, por várias razoes. Uma delas, é que se você precisa usa-lo, você tem que atravessar o corredor, desviando de cabecas e pés de pessoas adormecidas e ir tomando cuidado para nao cair no colo de alguém quando o motorista entra numa curva fechada. E caso você consiga alcancar a cabine (e abri-la, que nao é fácil), você ainda corre o risco de acordar todo mundo com a luz irradiante que saí do banheiro. E com o cheiro da privada, que empesteia o veículo inteiro. 
Por amor ao sono do próximo, eu ficava me segurando e só ia ao banheiro na rodoviaria. E o cenário era sempre o mesmo: o banheiro tinha cara de ter sido usado milhoes de vezes por milhoes de pessoas e, na entrada, tinha sempre uma senhora sentada perto de uma mesa, sobre a mesa havia um pires com algumas moedas e alguma plaquinha com coisas escritas tipo: "obrigado pela contribuicao" ou "uma pequena ajuda faz a diferenca". 
Eu sempre fiz questao de pôr umas moedinhas. Nao por caridade ou peso na consciência. É que nas entrelinhas, ao invés de ler a mensagem eu lia algo como "ou você bota umas moedas ou vai ter que limpar com a mao. A escolha é sua". 

Hoje de manha, ao ir ao banheiro da estacao, tive um série de déjàvus. Com uma diferenca apenas: ao invés de ter uma tiazinha na entrada com um pratinho de moedas, havia uma máquina e uma catraca. E nao havia nenhuma mensagem num papel agradecendo a colaboracao e sim um manual de instrucoes. Pus as moedinhas e recebi em troca um pequeno comprovante de pagamento. Olhando com outros olhos, podiam chamar aquilo de "entrada" para o espetáculo. Me senti num show de rock de bandinha alternativa desconhecida no Sesc Pompéia. 
Passei pela catraca. Entrei na cabine. Fétida. Usei o banheiro, dei a descarga e fui lavar as maos. Nao tinha água. Nem sabonete liquido. Mas tinha papel para secar as maos.

Eu fiquei revoltada. Paguei o ingresso para um show completo e a banda fez um pocket show? Se fosse de graca, tudo bem. Cavalo dado nao se olha os dentes. Mas...eu paguei! E nao paguei meia entrada de estudante! Depois de mexer em todas as torneiras e constatar que realmente nao tinha água, tirei o ingresso de entrada do banheiro do bolso, para ver se havia algo sobre isso escrito. E olha o que li: 

                                                Promocao do dia: 




Vá a nossa lanchonete e ganhe 50 centavos de desconto em qualquer comida!
Promocao válida apenas para o portador do bilhete no dia 10 de fevereiro.

Legal! E como isso vai resolver meu problema? Dá pra lavar a mao na lanchonete? 

Me pergunto, caro leitor, COMO alguém teve a brilhante idéia de oferecer comida com o bilhete que você usa para entrar no banheiro? e um banheiro naquelas condicoes, que nem água na torneira nao tem? Será que sou só eu que acha isso estranho?


Nessa hora, senti falta da tiazinha do banheiro. Pra perguntar, se realmente nao era possível lavar as maos. Para reclamar. E pra perguntar o sentido de ir ao banheiro, pagar um absurdo, nao ter a chance de lavar as maos e ainda por cima ter o prazer de ir comer um pao com queijo na lanchonete da estacao.Com as maos sujas.
Ou, se nao desse pra perguntar pelo menos pegar metade do dinheiro de volta. Metade das moedinhas que estivessem no pires

Porque se for pensar bem, os funcionários da lanchonete também nao têm banheiro próprio. Eles usam o banheiro da estacao. E com essas maos infectas, prepararam o delicioso e inesquecivel lanche.

Depois dizem que nós brasileiros que somos subdesenvolvidos...
Havia na parede um aviso bem grande, para que ninguém passasse por despercebido.
Embaixo, traduzido para o inglês.
Que evoluidos somos!



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