terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Hoje é dia 14 de fevereiro. Dia de San Valentim. E dia dos namorados, para os casais, as floriculturas e as perfumarias.


Logo que cheguei aqui, nao fazia ideia de que o dia dos namorados fosse comemorado em fevereiro. Afinal, a gente no Brasil tem o dia 12 de junho. E para mim, me parecia mais lógico que o dia dos namorados fosse em junho, pois junho aqui é primavera e primavera tem tudo a ver com os apaixonados.
Mas nao. Aqui na Europa e em boa parte do continente americano  (salvo o Brasil) comemora-se o dia dos enamorados no dia 14 de fevereiro. Quem assistia o Chaves se lembra disso: há um episódio em que eles comemoram o "Dia de San Valentim" na vila. Ou seja, no  México também é assim.


Eu nunca dei nada de presente. Nao por que nunca estive num relacionamento sério. Mas por que odeio essas datas feitas pelos publicitários para induzirem o aumento de compras em certos setores com intencao de alavancar a economia de tempos em tempos. Afinal de contas, é assim que se valoriza tanto o dia das maes, dia dos pais, dia dos namorados entre outras datas. Inclusive o natal foi inescrupulosamente utilizado pelo capitalismo para defender os interesses dos lojistas e fabricantes de bens de consumo. Perguntar a uma crianca aqui na Alemanha o que é o natal, ela vai te responder com uma palavrinha chave: ganhar presente. Do Papai Noel, claro. Fora isso, nao há quase crianca alguma que saiba alguma coisa sobre a bíblia e Jesus Cristo. Ou amor ao próximo. Nao sou religiosa, mas se uma festividade é tao importante na minha vida, eu deveria me perguntar o porquê, nao é?




Mas o mais maluco é ver como funcionam os relacionamentos aqui na Germânia. Aqui, as pessoas têm a fama de serem frias. E sao mesmo. Nao é preconceito. É uma afirmacao. 
Vi muitos casais 100% alemaes e tive um relacionamento com um. Nada fácil para uma brasileira. Esse povo é muito pouco convencional. 


Conheci um casal que morava na mesma casa que a ex-esposa do marido. Os tres, juntos, numa casa só. E viviam bem, se ajudavam e entre as mulheres havia até uma troca de favores, receitas, dicas de casa. Nunca vi algo parecido no Brasil. Lá, a gente é obrigada a ser inimiga mortal de ex. E mostrar pra todo mundo, o quao ridicula ela é e que você inclusive aprendeu a costurar só para fazer um bonequinho vudu dela e espetar em horas variadas, em regioes variadas. 
Outro casal que conheci está há oito anos morando junto. Pensam em casar. Ele nunca aparece perto dela. Quando estao juntos, ou ela anda na frente, sozinha ou atrás dele. Maos dadas, nem pensar. Nenhum tipo de demonstracao de afeto em público. Ela é pedagoga e estuda muito. Ele, mecânico de carros e seu único hobby é assistir "Married...with children", uma serie antiga americana, extremamente sem graca. Ele já admitiu que a traiu muitas vezes. Ela chorou sozinha, encostada no aquecedor comendo chocolate. Depois ergueu a cabeca, deu o troco com a mesma moeda e voltou pra casa deles, com uma sensacao de missao cumprida. E tudo ficou por isso mesmo. 
Como vocês podem ver, anda tudo maravilhoso.


Alemao nao gosta de muito contato físico como nós, brazucas. Nao por que achem desagradável o contato físico. Apenas por que nao sabem muito bem o que fazer e como reagir quando recebem um abraco ou um beijo no rosto. E isso reflete nas relacoes "a dois". Casais alemaes vivem juntos por anos e anos a fio, mas se sao convidados a uma festa, sentam-se em lugares diferentes, conversam com outras pessoas e nao dao a mínima para o(a) parceiro(a). E nao gostam muito de sair juntos. Vivem na mesma casa, mas parecem nao querer compartilhar dos mesmos interesses. 


Muitos deles, como o caso desse casal que descrevi por último, estao apenas juntos por medo de arriscar algo novo ou de ficar sozinho. Aqui na Alemanha é difícil conhecer pessoas. Cada um vive numa redoma de vidro, protegido, fechado dentro de casa, com medo do mundo e das coisas novas. 
Sao pessoas fechadas no comeco e que precisam de um empurraozinho para arriscar coisas novas e tentar algo diferente. Isso nao é esta apenas relacionado com às relacoes interpessoais, mas está presente vários aspectos da vida. Por isso, a meu ver, eles sao pessoas tao solitárias. E algumas delas, extremamente amargas. 


Por isso, o dia de San Valentim é tao importante para eles: é o dia de mostrar afeto. Eles demonstram afeto umas duas ou três vezes por ano: no aniversário do parceiro, dia do aniversario do relacionamento e dia dos namorados. O resto do ano está aí para trabalhar, ver tevê e reclamar de coisas que acontecem em suas vidas. Afinal nao há nada mais típico alemao que reclamar.


Bom, eu decidi deixar esse dia de San Valentim passar em branco. Por duas razoes: a primeira é que ando tentando me integrar cada dia mais à cultura alema. E ando tentando me adaptar ao máximo. Portanto eu nao tenho o porquê de demonstrar o meu afeto hoje. Demonstrei na semana passada já. Agora só terei que demonstrar de novo no dia em que meu relacionamento completar um ano. E depois, no aniversário do meu parceiro. 
Isso eu chamo de integracao cultural. Adaptar-se e incorporar costumes!


Segunda razao: eu sou estudante. Ando sem meios de apoiar ainda mais o mercado de bens de consumo. 
Es tut mir Leid. 


Comemorarei se der, mais pra frente. No dia 12 de junho!

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