terça-feira, 13 de março de 2012

Casa nova, cidade nova, vida nova

Foi por motivo de forca maior que fiquei sem escrever estes dias. Estava de mudanca de Halle para Nordhausen. Nao porém, como alguns pensam, por falta de assunto. Afinal sempre tem-se algo a dizer especialmente sobre alguma bizarrice germânica. O que me faltou foi tempo e a oportunidade de compartilhar com vocês, caros leitores.

Desde que cheguei a essas terras gélidas, me mudei umas trocentas e cinquenta vezes. As pessoas daqui, ao me conhecerem, sempre me perguntam onde eu morava antes. Eu, ao me deparar com a pergunta, retruco com outra pergunta:
    -Antes, quando? antes de vir para cá, ou desde os tempos mais primórdios da minha mísera existência?
Eis uma grande diferenca entre uma coisa e outra. Porque antes de vir para a cidade onde eu atualmente estou, Nordhausen, morei em Halle - na Saxônia-Anhalt - por seis meses. Fiz lá um estágio e me apaixonei pela diva cinzenta (assim é conhecida a cidade). Mas antes disso, morei em Eichsfeld, uma regiao minúscula no estado da Turingia e passei uma breve temporada de seis meses na regiao de Castilla, Espanha. E antes disso tudo, morei no Brasil em três estados diferentes e em diversas cidades. Foram tantas mudancas de casa que perdi a conta. Sou uma nômade desde que nasci.

Manha de outono, em uma ruazinha da "diva cinzenta"
Nao me queixo; muito pelo contrário, acredito que sou como sou, por ter tido vivências incríveis em diversos lugares. Estar sempre de um lado a outro, viajando, mudando, me fez mais independente e autônoma. Mexeu com minha visao de mundo, abriu minha cabeca, me fez aprender na marra. E me fez conhecer um bocado de gente incrível, com historias espetaculares. E lugares cheios de encantos, mistérios e curiosidades.
Sempre me lembro de lugares que passei e sempre caminho olhando pra frente. Desejo conhecer mais, aprender mais e vivenciar mais. E se der, rever os amigos e pessoas que conheci nas minhas caminhadas.
Meu pai me disse uma vez uma frase que me marcou muito. Ele disse que quando você viaja, você só se sente feliz e realizado quando está no caminho, antes de chegar a algum lugar. No caminho, você planeja, cria expectativas, está desejoso por rever as pessoas amadas. O reencontro é algo magnífico!
Porém, depois de alguns dias (ou quem sabe algumas horas?), você sente que algo está faltando. As coisas nao sao como eram antes. Ou sao da mesma maneira como eram antes. E isso, exatamente isso, que quando você estava longe te fez tanta falta, passa a te incomodar. E pouco a pouco, vai dando um comichao, uma inquietude, uma irritabilidade. As ruas, as casas, as pessoas, as árvores, as lojas, nada disso é tao familiar assim. Você se dá conta de que nada te pertence mais. Aí bate uma vontade de calcar as botinas e pôr o pé na estrada. Ou seja: estando longe, você que voltar. E voltando, você quer estar longe de novo. Vai entender.
Mas o ponto é que ele tinha a absoluta razao:

 Só se é feliz de verdade no caminho. Seja o de ida ou de volta.

Muitas pessoas me perguntam se eu vou ficar aqui pra sempre. E eu me pergunto se algum dia serei capaz de voltar. Nao sei a resposta. Estar mudando é divertido, é interessante. Mas nao creio que vou continuar sendo nômade aos 70 anos de idade. Porque viver viajando tem suas inconveniencias também. A bagagem que você tem que carregar é as vezes por demais pesada. Especialmente se você leva muitas coisas consigo. Entao, para facilitar, você vai se desfazendo de algumas coisas que sao suas, para carregar consigo só o essencial. Fazendo isso, você acaba jogando fora uma parte de si, da sua identidade, das suas conviccoes. Você nao muda só de ares: você muda automaticamente um bocadinho do seu jeito de ser. Você muda (geralmente sem querer) seu estilo de vida.

Eu estou numa nova casa e já me sinto diferente do que era há duas semanas atrás, quando ainda estava em Halle. Halle me faz falta, mas nao troco minha nova personalidade camaleonica atual por nada. Vivo aqui. Agora.

Chamei uns amigos e vou fazer uma festa de boas vindas aqui. Aproveitei e pedi uns presentinhos. Nao para mim, e sim para a nova morada. Ares novos, vida nova, coisas novas. E para nao perder um pouquinho da minha identidade, espalhei pelas paredes meus postais favoritos (coleciono postais dos lugares em que estive), meus quebra-cabecas, meus quadros e fotos das pessoas que amo.
A foto do meu pai está na parede do meu quarto. E sempre que a vejo, me lembro de suas palavras: "só se é feliz quando se está no caminho em direcao a algum lugar". Eu olho-a e penso comigo: "Estou no caminho, meu pai. Nunca sai dele. Estou no caminho da descoberta de mim mesma."


5 comentários:

  1. Ja. Das ist der ewige Kampf zwischen Fernweh und Heimweh. Zuhause ist der Ort an dem man gern zurückkommt.

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    1. Hallo Sven!
      Danke für deinen Kommentar. Ich freue mich sehr, dass du meine Beiträge in den Blog verfolgst! Ja, Fernweh und Heimweh sind immer da. Man ist froh, wenn man zurück nach Hause kommt und froh, wenn man für eine Weile weg ist. Wir sind Menschen: wir sind nie ganz, nie perfekt und fast nie zufrieden.

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  2. Olá Menina de nome nada comum, de um blogue nada comum, de uma vida nada comum. Também, tal como tu, estou nestas vivências europeias,gostei da tuas palavras neste texto e da tua vida de nômada, li que viajar é como viver a experiências de ler 100 livros, sendo assim já lestes centenas e centenas de livros nestas tuas viagens e descobertas de mundos e de ti mesma. Gosto imenso do teu blogue, de como escreves e do que escreves. Beijão e sorte em tudo e principalmente na nova morada. Bem haja.

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    1. Olá Enéas! Sejam bem-vindo ao blog. Agradeco de coracao por ter-te como um dos leitores dos meus humildes textos. Escrevo por ansias de ter que contar, por inquietudes espirituais e por devocao que tenho pela lingua portuguesa. Sei que você entende, pois eu sou uma leitora assidua do teu blog e o acho incrível. Me sinto honrada por saber que você acompanha meus textos.

      Pois acredito sim, que viajar é aprender a viver. E eu to adorando viver!

      Obrigada mais uma vez pelo comentário e pelos votos. Sou sua fan!

      Um forte abraco!

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  3. Que venham as lágrimas.
    É a vida, eu sei.
    Mas um dia salto de tua parede e te encho a cara de beijos e te cubro de abraços, porque tens o dom de me fazer feliz entre lágrimas.
    Vai, caminheira, vai.
    E quanto mais ligeiro fores, mais rápido chegarás a mim, que te espero olhando o redondo deste planeta e sabendo que a linha do horizonte fica a apenas 2 quilômetros dos meus olhos.
    Depois dessa linha virá outra e outra e outra até que surjas no horizonte.
    Então vai, que te espero olhando o redondo deste planeta.
    Assim seja!

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